Leio no suplemento de negócios do Jornal de Notícias (via The Wall Street Journal) que uma peça de teatro de Voltaire escrita há 265 anos e apresentada por estes dias numa cidade francesa criou grande celeuma entre a comunidade muçulmana.
Seguindo-me pela palavras do artigo (desconhecendo eu o teor do dito texto), diz-se que a peça intitulada "Fanatismo, ou Maomé é o Profeta" usa o fundador do Islão para satirizar todas as formas de furor religioso e intolerância.
Esta peça criou rápidas inflamações dentro da comunidade islâmica, argumentando esta que a "peça constitui um insulto à comunidade muçulmana no seu todo" (frase inserida numa carta enviada por uma associação muçulmana ao presidente da cidade onde a peça foi exibida).
Segundo as palavras do artigo (e mais uma vez, repito, desconheço o teor do texto da peça) diz-se que a peça "Fanatismo" retrata Maomé como um tirano cruel com inclinação para as conquistas. O tema principal é o uso da religião para promover e mascarar as ambições políticas.
Mais à frente no artigo diz que quando Voltaire escreveu a peça, em 1741, os religiosos da Igreja Católica Romana denunciaram a obra como uma velado tratado anti-cristão. Os protestos (na altura) forçaram ao cancelamento de um espectáculo em Paris depois de três apresentações...
A conclusão a retirar disto tudo é muito simples, por mais que se tente complicar. Ou seja, qualquer crente de uma qualquer religião (seja ela qual for) que seja um crente livre concordará com o principio do texto: na maior parte da vezes, a religião quando utilizada pelo poder político ou outro não é mais do que um pretexto para ambições que de religiosas têm muito pouco. Por isso, todos eles, deviam saudar textos que chamam a atenção para uma realidade que é incontestável. Como refere o artigo, o que se passa agora no islão passou-se à poucos séculos atrás no ocidente em concreto nas religiões descendentes do cristianismo. Aliás, a igreja católica não tem lições de moral a dar a ninguém. Algumas das maiores atrocidades da sociedade foram perpetuadas sob o espectro do catolicismo, a Inquisição católica.
Como dizem os defensores de Voltaire, e nos quais eu me incluo, pelo menos neste caso em concreto - desconheço a obra de Voltaire -, a obra representa um manifesto pela liberdade e razão e deveria ser interpretada não tanto como um ataque contra o Islão, mas antes como um ataque codificado contra os dogmas religiosos que mancharam a história europeia com conflitos sangrentos.
Nota 1: este post foi escrito de acordo com o teor do artigo do The Wall Street Journal
Nota 2: os meus conhecimentos sobre religiões são muito diminutos, por isso, desculpo-me desde já de algum erro factual. É pura opinião.