Eu tenho me entretido ao ver e ao ler os comentários às palavras do Patriarca de Lisboa, Dom José Policarpo. Ele disse, entre outras coisas, o seguinte: “Pensem duas vezes em casar com um muçulmano, pensem muito seriamente, é meter-se num monte de sarilhos que nem Ala sabe onde acabam”. A Esquerda anticlerical fanática, para discutir estas palavras do Patriarca, vem logo falar da violência doméstica no seio das famílias católicas, como se isso viesse à discussão. A Direita conservadora católica, para não ficar atrás, vem logo falar de casos mediáticos que possam justificar as palavras do Patriarca. Ambos desviam a conversa para onde mais lhes convém. Eu acho que as palavras do Patriarca devem ser julgadas pelo que representam, e só. Dito isto, considero muito infelizes as palavras do Patriarca de Lisboa. Primeiro, tomou a parte pelo todo; o que é sempre perigoso. Segundo, da forma que falou - casamento em lato sensu e não apenas o contrato (interpretação pessoal) -, esquece-se do mais importante, o amor entre duas pessoas. Terceiro, é alguém com relevância pública (inclusive excede o âmbito meramente religioso), pelo que se pede, no mínimo, prudência quando fala de questões que podem originar “mal-estar” entre as diferentes religiões, para mais considerando que a Igreja Católica anuncia aos quatro ventos a tentativa de um maior entendimento inter-religioso (é pelo menos incoerente). É bom não esquecer que existem católicos fanáticos e muitas vezes os que casam com alguém de uma família profundamente católica passam um mau bocado, no mínimo, ou vão à missa ou não são bem-aceites. Dizer a um católico fanático que Deus não existe é arriscar-se a levar uma sova. Eu que diga à minha avó que Deus não existe que ela diz-me como é…:)
Acredito que o Patriarca foi mal interpretado, mas o que importa - é incontornável – não é o que se tenta dizer, mas a forma como os outros entendem o que se disse. Por isso, só lhe ficava bem tentar explicar o que efectivamente quis dizer.